Rogério Essin

O Olho de Deus não Joga Dados

Rogério Essin e a sua obra estão transparentes, sua atitude de artista e suas narrativas poéticas são sempre convites, são sempre diretamente dirigidas ao interlocutor ou melhor, ao ouvinte. Hoje eu quero falar de um mestre da canção. No álbum O Olho de Deus não Joga Dados, Rogério Essin nos revela a sua maestria ao construir temas melódicos não apenas belos, expressivos, elegantes, mas que reinstilam o tão necessário gesto da palavra que foi submetido à prosódia e ao ritmo nas notas da melodia.

Mas é exatamente isso que Luiz Tatit nos ensina: ao compositor cabe a tarefa de devolver às palavras o gesto perdido e nelas configurar um novo gesto, rítmico, melodioso, dramático, expressivo. Rogério nos atualiza esses valores em sua criação melódica, um proceder artístico que se encontra em todas as faixas do CD O Olho de Deus não Joga Dados. As melodias são sempre equilibradas em sinuosidades, equilibradas em ritmos brasileiros e sua precipitação no tempo de narrativa; são eficazes na produção dos sentidos que o compositor propõe ao seu interlocutor, aliás, ouvinte. Tenho de dizer: ouço as músicas do Rogério como quem dialoga com ele. E eu respondo a seus versos, sempre em silêncio.

Quando ouço esse álbum também reconheço o intérprete das obras que criou; sua voz afinada soa, entre os instrumentos, com timbre encorpado, timbre que me é familiar, há muito conhecido e, no entanto, único; uma voz que, penso ser dirigida a mim, mas essa voz se lança ao espaço, ou melhor, é lançada em direção a todos, longínqua e coletivamente e, no entanto, o gesto do cantor e poeta é suave e confessional: é a voz de seu amigo que, em visita, te convida a olhar pelos seus olhos, as notícias que nos traz, as boas novas que o seu olhar colheu do mundo. Rogério Essin soa, canta, escreve, compõe e nos acompanha hoje, posto que esse artista depôs tudo aquilo que é impossível de nos ser subtraído.

Felipe Radicetti– março de 2024