Intrépidos Independentes

INTRÉPIDOS INDEPENDENTES

Colegas compositores, intérpretes e músicos!

viemos repisar a ideia de que sempre que é possível estabelecer uma rede solidária entre artistas, temos uma grande oportunidade nas mãos: constituir um grupo solidário é instituir a dádiva, em seu sentido amplo, é prover a oportunidade de partilhar forças e ações para um bem comum.

É apenas isso que queremos falar: desde meados da década de 1970 artistas da música uniram-se para atalhar os gargalos da atividade impostos pela indústria fonográfica e as ferramentas de seu entorno, como a imprensa e os outros elos da cadeia econômica da música. O fato de o país estar sob a sufocante ditadura civil-militar engendrou o ambiente propício para toda ação independente: a linguagem da fresta, iniciativas autônomas e que contestavam tudo o que se identificasse com o sistema. Esses artistas foram capazes de se unir para dar início à produção independente, incentivados pelo pianista e compositor Antonio Adolfo, que serviu de modelo para os que seguiram o seu exemplo; fundaram a APID, a Associação de Produtores Independentes de Discos, e seus princípios comunitários e inclusivos nortearam um conjunto de ações que fizeram história. A imprensa apoiou o movimento e o público aplaudiu a iniciativa. Foi um momento ímpar e que deixou marcas indeléveis na história da MPB.

Neste momento em que vivemos uma precarização tão profunda nas relações de trabalho – incluindo na música; neste momento em que a economia da cultura tem mostrado uma face hostil a criadores, intérpretes e músicos, um coletivo coeso e comprometido com ações compartilhadas congrega potências para também fazer história.

Aqui chamamos a atenção para os caminhos trilhados pelos pioneiros da música independentes: essa é a razão pela qual nós, da Zênitha Música produzimos a série Intrépidos Independentes, todo mês postando um programa sobre aqueles que riscaram no chão os caminhos que hoje trilhamos de olhos fechados. Trata-se de um tributo aqueles que, contra tudo, contra o sufocante sistema econômico e políticos daqueles anos, souberam construir uma rede solidária que produziu a trilha sonora da vida de muitos de nós, que participamos deste grupo.

Os jornalistas que apoiaram o movimento foram importantes mediadores junto ao grande público, assim como os vendedores das lojas de disco também cumpriam esse papel, ao ofertarem os títulos independentes aos audiófilo e compradores que entravam nas lojas. Além disso, durante as turnês, os artistas associados à APID levavam os LPs de todos para venderem nos shows. Todos eram artistas autoprodutores, mas também divulgadores e vendedores dos títulos dos colegas. Foi o espírito do tempo que fez toda a diferença. Naqueles anos, ninguém soltou a mão de ninguém.

Se nos unimos temos a oportunidade de retomar o exemplo dos pioneiros. Quem sabe aonde tudo isso vai dar?

Para assistir à série Intrépidos Independentes, clique no links dos dois episódios já publicados:

Ep. 01, Chico Mário https://youtu.be/cTGS4xVQKgQ?si=rrQM818kM_xO5p6b

Ep. 02, Antonio Adolfo https://youtu.be/DeuBXVvnj40?si=3GTFQICNIYxMjil7

Ep. 03, Lucina https://youtu.be/rdhcmY55B0Q?si=nkPjk1j-ez8acAWb 

Ep. 04, Ana Terra e Danilo Caymmi

 

Felipe Radicetti– novembro de 2023