Sagrado Profano – Felipe Radicetti

Release Date: 2009-03-13
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Sagrado Profano

Sagrado Profano é um ciclo de canções onde o compositor reflete sobre a sua experiência com o sincretismo religioso e a multiculturalidade tipicamente brasileiros. Radicetti integra sonoridades das cerimônias religiosas afro-brasileira, xamânica e da tradição judaico-cristã com a música eletrônica. O CD Sagrado Profano fala do amor e da fé, do que nasce e do que morre.

LETRAS

Canto de Roda da Pedra do Sal (Felipe Radicetti)

Oniá oni-e-rê

Eoni-e-lê obá diá

Oniá oni-e-rê

Eoni-e-lê obá.

Sol acima luzindo na pele,

Na curva do seio da minha cunhã

Essa luz é que eu danço na roda

Na Pedra do Sal de manhã.

Oniá oni-e-rê

Eoni-e-lê obá diá

Oniá oni-e-rê

Eoni-e-lê obá.

Sol menino embaixo da pele,

É curva do ventre da minha cunhã.

Essa luz é que eu danço na roda

Na Pedra do Sal de manhã.

Oniá oni-e-rê

Eoni-e-lê obá diá

Oniá oni-e-rê

Eoni-e-lê obá.

Nunca deixe de iluminar

De guiar cada passo da minha cunhã.

Essa luz é que eu danço na roda

Na Pedra do Sal de manhã.

Dom Pixote (Felipe Radicetti e Marcelo Biar)

Ele tava já bem perto de mim

No quarto escuro em que eu acordei

O gigante que guardava o meu sonho

Que de bom tornou-se medonho

Ai meu deus, ele vai me pegar

Ai que medo terrível me dá

Eu não posso mais

Um dois três e já…

O menino ganhou mundo

Pulou num segundo

As janelas, partiu

Dom Pixote andarilho

Inverteu o estribilho

Inventou um refrão

Pra gente cantar

Levantei o pó da estrada e gostei

Mas nuvens de chumbo pairavam no ar

O gigante que guardava o caminho

Com punhos e pontas de espinho

Assim eu não deixo ficar

Já é tarde e eu não vou me calar

Eu não posso mais

Um dois três e já…

O menino ganhou mundo

Pulou num segundo

As janelas, partiu

Dom Pixote andarilho

Inverteu o estribilho

Inventou um refrão

Pra gente cantar

Dom Pixote hoje é Cervantes e mora

Em muitas histórias

Quem há de negar?

Todo mundo tem um sonho a seguir

E de quem é a vez?

Um, dois, três e já!

Um, dois, três e já!

Um, dois, três e já!

Cadafalso (Felipe Radicetti e Cristina Saraiva)

Apressado

O rapaz descuidado

Não olha pro lado

Não ouve

O pranto da rua

Não vê sol, não vê lua

Não recua diante da dor

Nem repara

No triste cenário diário

De quem tem na vida

Um eterno calvário

E segue à custa

De brisa e rosário

E as vezes, um sonho de amor

Dia a dia

O rapaz passa ao largo

Desse cálice amargo

Covardia ou fatal distração?

Todo dia

Apressado

O rapaz, sem supor

Anda ao lado da morte e da dor.

Distraído

Não vê pé descalço

Criança em concreto

E fumaça

No meio da praça

Não enxerga, cadafalso

Bem armado no centro da dor

Ou disfarça

E passa em seu passo apressado

Se esquiva, se cala ao ver o menino

Com seu destino trançado na bala

Já selado, escrito na mão.

Dia a dia

O rapaz passa ao largo

Desse cálice amargo

Covardia, ou fatal distração?

Todo dia

Apressado

O rapaz, sem supor

Anda ao lado da morte e da dor.

Andes (Felipe Radicetti)

Eu canto as canções e as canseiras

As costas dessas costureiras

Equívocos, esses nem contam mais;

Eu nunca fui muito dócil.

Eu nunca fui muito hábil.

Eu busco os tesouros e as tesouras

Desses senhores que armam troças

Mas essas senhoras com quem tropeço

Caro ouvinte é o mais difícil.

Foi sempre o mais difícil.

Meus passos seguem tateantes

Até ter os pés nos Andes, afinal;

Eu nunca entendi o missal

E a ainda a minha náusea de sempre.

Tomara que enfim eu tome um rumo

Que eu cumpra a caçada seminal

Eu acho tudo tão normal

Ainda que fora do prumo.

Medida (Felipe Radicetti e Felipe Cerquize)

Nem tão forte que nos tire o norte

Nem tão lento que não faça vento

Nem tão dentro que morra no centro

Nem tão fora que deva ir embora

Que deva ir embora

Nem retrato como substrato

Nem miragem como sabotagem

Nem tão certo que nos deixe perto

Nem tão falho que evite o atalho

Evite o atalho

Nem tão alto que tombe do salto

Nem tão baixo, senão eu não encaixo

Nem tão longo que abafe o gongo

Nem tão curto que suma com o surto

Nem tão curto

Nem tão feio que cause o receio

Nem tão belo que leve ao flagelo

Nem tão bravo que chegue ao agravo

Nem tão manso, senão eu me canso

Nem tão belo

Nem tão chique que tenha chilique

Nem tão brega que entregue a regra

Nem tortura numa ditadura

Nem ser dono do próprio abandono

Nem tão forte que morra no centro

Nem tão lento que deva ir embora

Nem tão dentro que nos tire o norte

Nem tão fora que fique ao relento

Que não faça vento

Nem retrato que nos deixe perto

Nem miragem que evite o atalho

Nem tão certo como substrato

Nem tão falho como sabotagem

Evite o atalho

Nem tão alto que abafe o gongo

Nem tão baixo que suma num surto

Nem tão longo que tombe do salto

Nem tão curto senão eu não encaixo

Nem tão curto

Nem tão feio que chegue ao agravo

Nem tão belo, senão eu me canso

Nem tão bravo que cause receio

Nem tão manso que leve ao flagelo

Nem tão belo

Nem tão chique que tenha chilique

Nem tão brega que entregue a regra

Nem tortura numa ditadura

Nem ser dono do próprio abandono

Muito fria, congela a poesia

Muito quente, queima o amor da gente.

Dois sem Par (Felipe Radicetti e Cristina Saraiva)

O corte, o fel, o sal mesmo gosto amargo

O pranto, o não

É tudo normal

O gesto, a dor, o mal, frases e navalhas

Tá bem, no fim

É tão natural

Os dias iguais

A guerra do olhar

Sim, vê

Palavras mortais

Deixe estar

É normal.

O vento, a noite, o pó, o mesmo silencio

Alguém tão só, mais nada a falar

A cama, a casa, o lar

Restos de uma história

São dois sem par

Num mesmo lugar

Ninguém percebeu

Ninguém quis olhar

Não há

Nem sombra de amor

Deixe estar

É normal.

Deixe tudo assim

Assim como está

Dois sem par

Deixe tudo assim

Dois sem par

O vento, a noite, o pó, o mesmo silencio

Alguém tão só, mais nada a falar

A cama, a casa, o lar

Restos de uma história

São dois sem par

Num mesmo lugar

Ninguém percebeu

Ninguém quis olhar

Não há

Nem sombra de amor

Deixe estar

É normal

Deixe tudo assim

Assim como está

Dois sem par

É melhor deixar

Assim como está

Dois sem par

Deixe tudo assim

Assim como está

Dois sem par

É melhor deixar

Assim como está.

O Louco (Felipe Radicetti e Cristina Saraiva)

Um lado quer

Se entrega e trai

O lado “nunca mais”

E o louco então,

Se enreda, vai

Um lado é mar

Aberto à dor

Um louco sonhador

Que ainda crê

No grande amor.

E cego vai sem se importar

Se há pedra, há farpa no chão

Se a dor espreita sem perdão

Se seu olhar é ilusão

Olha o laço

Sorri e vai, vai no encalço

Do perigo de um amor

Que faz sangrar, que já cortou

Um lado é sim

E cala em mim

O lado “nunca mais”

O louco vai,

Sem me escutar

Um lado diz

O que eu não quis

O que eu tentei negar

O louco assim

Diz que é feliz

Se penso enfim me proteger

Se quero e espero ficar

O louco vai em meu lugar

Me lança ao fogo sem pensar

Olha o laço

Sorri e vai, vai no encalço

Do encanto de um amor

Me leva assim e assim eu vou

Me entrego, fico em suas mãos

Eu Fecho os olhos, sigo então

Mesmo passo

Um mesmo andar, meu companheiro,

O louco lado manda em mim

O outro lado quer assim

E assim seu jogo eu faço

Eu em seu laço

Eu e esse lado

Sim.

Nieblas (Felipe Radicetti e Arnoldo Medeiros)

¿Viento de la sierra

Cuantos secretos guardas tu?

¿De cuantas tristezas sabes tu?

¿Me llevarás Bien lejos al mar?

Por la niebla Vendrás

¿Viento que me guía

Cuanta alegría vistes tu?

¿De cuantos amores vienes tu?

¿Recordarás Aromas del mar?

Me hace falta

Llegar

Soñar!

Línea del agua, cruzar

Hilo del alma,  buscar

Adivinar

Desvendaré en ti

El amor

Piedras del muelle, anhelar

Embarcaderos, dejar

Se desatar

Desplegar la cruz

De un dolor

Yo te quiero luz!

-Yo te quiero  luz!

¿Viento que me asusta

Cuantas angustias traes tu?

¿Qué miedos y llantos tienes tu?

¿Me_escucharás

Orilla del mar?

Me hace falta

Llorar.

Ojos que me gustan

Sueña mi sueño y zarparás

Abre ventanas y entenderás

El río es

Sendero del mar

Y te quiero Amar

Amar!

Cuerpos girando en la luz

Te enciendo incensos hindus

Acariciar

Al compás lunar

Te saciar

Desnudaré tu pasión

Seduciré la ilusión

Codiciaré

A tus labios más

Siempre más

Yo te quiero, si!

Yo te quiero así!

Albeggiare (Felipe Radicetti e Cristina Saraiva, versão italiana de Anteo)

Sorgi già, chiara stella

Sulla notte

E vaga intimità.

Sulle acque scure, il sale Il male, più non so ormai

E camminare, così serena

Sui venti

Che traggono senza età

Tanti sogni, fiori, giardini,

E poi, più non so ormai

E comè, rinascere per te: non importa quel che contò?

Distarsi sempre sola, a uma nuova felicità?

Come non soffrire, come brillare?

Comé éssere solo stella?

Sorgi già, chiara stella

Sulla notte

E sul mio contemplare

Chissà che un giorno,

E poi, se puoi, nascere tu possa in me.

Relicário de São Miguel (Felipe Radicetti)

Arcanjo, estás

Comigo aqui

Antigo e repentino;

Como um licor, me conduziu

A todos os ardis?

Do alto destes prédios

Me lançaste para o fim

E assim, meu protetor e meu assassino.

Voar em sonho é tão bom

Será que fui em tuas asas?

Miguel, nas noites que acordei

Sem voz, sem ar, aos sobressaltos?

És o menino meu

Que trago ao colo

Por todo o tempo que eu viver?

Há quanto estás

Comigo aqui

Com tantas regalias?

Com estas asas

Em marfim,

Cravadas sobre mim?

Como raízes que me erguessem

Desde que nasci

E ainda me esvaísse uma sangria.

Diadema (Felipe Radicetti e Arnoldo Medeiros)

Ilê-ayê mãe-maré

Amaralina (mãe-maré)

Ilê-ayê mãe-maré

Amaralina

Seu sorriso permanente

Na entrelinha das tristezas

Como pausa de alegria

Nos momentos de incerteza

Alma calma, palma d’água

Lapidada de poemas

Gema rara cintilante

Diadema em minha vida

Ginga linda qual mandinga

Lua nova, luz bem-vinda

O feitio da atração

Arsenal do sensual

Você é toda essa malícia

Com um toque de delícia

A argúcia e sentimento

Tão sensível e carinhosa

Você é toda essa gana

De viver com alegria

Até quando tudo falha

Ou o alento se esvazia

Você é essa coragem

Sem engano e sem miragens

Preto e branco das agruras

Coloridas com ternura

Você é essa paixão

A imagem mais querida

Sanha, sexo, chama e lírio Meu altar e meu delírio.

Primeira (Felipe Radicetti e Juca Novaes)

O primeiro olhar foi como flecha tão certeira

O primeiro toque teu veneno, feiticeira

Primeira lua cheia, primeira brincadeira

A primeira vez foi uma festa em meu coração

O primeiro beijo acendeu tantas fogueiras

O primeiro amor assim de todas as maneiras

Estradas, cachoeiras, a pressa e as promessas

As primeiras juras e o primeiro desamor

O primeiro norte

O primeiro corte foi você

Primeira morte.

O primeiro sonho, tua vida por inteira

O primeiro fogo nos teus braços, companheira

primeiras rezadeiras, ciganas, benzedeiras

Primeiras alianças e o primeiro dissabor

A primeira rima

O primeiro clima foi você

Primeira sina.

A primeira dança, a primeira vez, meu primeiro algoz,

o primeiro amor ficou na poeira

A primeira dança, a primeira vez, meu primeiro algoz,

o primeiro amor ficou na poeira

foi na corredeira …

Retrato de Poeta (Felipe Radicetti e Marcelo Biar)

Meu hóspede é ártico silêncio

Imenso e solitário.

Um pai tão insolente e frágil

Age assim, conspirador.

Alerta um pouco além dos meus presságios.

Eu canto sem saber

A quem vai libertar.

Alheio ao temerário precipício

O ofício incendiário

(Ofídio de olhar oblíquo)

Cerca os réus num corredor:

A escolha do extremo mais longínquo.

Paredes entre nós

São finas, vão cair.

Como se não bastasse ser impróprio

O louco do baralho

(O andarilho vil que me despiu dos véus)

Meu traidor

A porta e o atalho para o exílio.

Meu hóspede é feito benefício

De um vício ordinário

Um pai tão implicante eleito por amor

Meu trovador

Se ergue como sombra sobre o meu dossel.

Ficha Técnica

Canto de Roda da Pedra do Sal (Felipe Radicetti)

Voz: Felipe Radicetti

Violão, viola caipira e percussão: João Cantiber

Coro: Clarisse Grova, Luana e Marianna Leporace

Arranjo e programação de base eletrônica: Felipe Radicetti

Dom Pixote (Felipe Radicetti e Marcelo Biar)

Voz: Clarisse Grova

Piano: Felipe Radicetti

Violão e percussões: João Cantiber

Flautas: Guilherme Hermolin e Flavio Paiva

Arranjo e programação de base eletrônica: Felipe Radicetti

Cadafalso (Felipe Radicetti e Cristina Saraiva)

Voz: Felipe Radicetti e Chico Adnet

Violão e percussões: João Cantiber

Bandolim: Rodrigo Lessa

Flautas: Guilherme Hermolin e Flavio Paiva

Coro: Chico Adnet, Felipe Radicetti e Raphael Bessa

Arranjo, teclados e programação de base eletrônica: Felipe Radicetti

Andes (Felipe Radicetti)

Voz e piano: Felipe Radicetti

Violão e set de berimbaus: Dalmo Mota

Violinos: Denise Pedrassoli

Violas: Deborah Cheyne

Arranjo e programação de base eletrônica: Felipe Radicetti

Medida (Felipe Radicetti e Felipe Cerquize)

Voz: Juliana Rubim

Piano e órgão Hammond: Felipe Radicetti

Violão e percussões: João Cantiber

Arranjo e programação de base eletrônica: Felipe Radicetti

Dois sem Par (Felipe Radicetti e Cristina Saraiva)

Voz: Luana

Piano elétrico e 2a. voz: Felipe Radicetti

Guitarra, violão e percussões: João Cantiber

Coro: Clarisse Grova, Diana Goulart e Marianna Leporace

Arranjo e programação de base eletrônica: Felipe Radicetti

O Louco (Felipe Radicetti e Cristina Saraiva)

Voz e piano: Felipe Radicetti

Violão: João Cantiber.

Violinos: Denise Pedrassoli e Oswaldo Carvalho

Violas: Déborah Cheyne

Cello: Hugo Pilger.

Nieblas (Felipe Radicetti e Arnoldo Medeiros)

Voz: Felipe Radicetti.

Violão e percussões: João Cantiber

Arranjo e programação de base eletrônica: Felipe Radicetti

Albeggiare (Felipe Radicetti e Cristina Saraiva, versão italiana de Anteo)

Voz: Marianna Leporace

Piano: Felipe Radicetti

Guitarra: João Cantiber

Coro: Folia de 3: Cacala Carvalho, Eliane Tassis e Marianna Leporace

Relicário de São Miguel (Felipe Radicetti)

Voz e órgão Hammond: Felipe Radicetti

Violão e percussões: João Cantiber

Flugelhorn: Guta Menezes

Arranjo e programação de base eletrônica: Felipe Radicett

Diadema (Felipe Radicetti e Arnoldo Medeiros)

Voz: Ladston do Nascimento

Piano elétrico e tambor cheyenne: Felipe Radicetti

Guitarra e percussões: João Cantiber

Coro: Clarisse Grova, Diana Goulart e Marianna Leporace

Arranjo e programação de base eletrônica: Felipe Radicetti

Primeira (Felipe Radicetti e Juca Novaes)

Grupo vocal Trovadores Urbanos (Maída Novaes, Valéria Caram, Juca Novaes e Edu Santana)

Órgão Hammond: Felipe Radicetti

Arranjo e programação de base eletrônica: Felipe Radicetti

Retrato de Poeta (Felipe Radicetti e Marcelo Biar)

Voz e piano: Felipe Radicetti

Flautas em Sol: Flavio Paiva e Guilherme Hermolin

Violinos: Denise Pedrassoli e Oswaldo Carvalho

Violas: Déborah Cheyne

Cello: Hugo Pilger

Coro: Clarisse Grova, Diana Goulart. Luana e Marianna Leporace

Citações

“Arranjos modernos, mixagem preciosa, cheia de ricos detalhes e canções inspiradas, embaladas pelo belíssimo projeto gráfico fazem desta fantasia uma rica mostra autoral do que é a vida para Felipe Radicetti”

Aquiles Rique Reis, 12 de março de 2009

“Sagrado Profano é uma ópera-pop-popular. Superprodução caprichada que mistura ideias musicais, visões poéticas e informação visual. Obra de arte múltipla e rica criada e regida por Felipe Radicetti. Desses trabalhos que valem uma vida inteira, maduro e muito bem construído. Criação sagrada”

Beto Feitosa, Ziriguidum, 17 de fevereiro de 2009