Sagrado Profano
Sagrado Profano é um ciclo de canções onde o compositor reflete sobre a sua experiência com o sincretismo religioso e a multiculturalidade tipicamente brasileiros. Radicetti integra sonoridades das cerimônias religiosas afro-brasileira, xamânica e da tradição judaico-cristã com a música eletrônica. O CD Sagrado Profano fala do amor e da fé, do que nasce e do que morre.
LETRAS
Canto de Roda da Pedra do Sal (Felipe Radicetti)
Oniá oni-e-rê
Eoni-e-lê obá diá
Oniá oni-e-rê
Eoni-e-lê obá.
Sol acima luzindo na pele,
Na curva do seio da minha cunhã
Essa luz é que eu danço na roda
Na Pedra do Sal de manhã.
Oniá oni-e-rê
Eoni-e-lê obá diá
Oniá oni-e-rê
Eoni-e-lê obá.
Sol menino embaixo da pele,
É curva do ventre da minha cunhã.
Essa luz é que eu danço na roda
Na Pedra do Sal de manhã.
Oniá oni-e-rê
Eoni-e-lê obá diá
Oniá oni-e-rê
Eoni-e-lê obá.
Nunca deixe de iluminar
De guiar cada passo da minha cunhã.
Essa luz é que eu danço na roda
Na Pedra do Sal de manhã.
Dom Pixote (Felipe Radicetti e Marcelo Biar)
Ele tava já bem perto de mim
No quarto escuro em que eu acordei
O gigante que guardava o meu sonho
Que de bom tornou-se medonho
Ai meu deus, ele vai me pegar
Ai que medo terrível me dá
Eu não posso mais
Um dois três e já…
O menino ganhou mundo
Pulou num segundo
As janelas, partiu
Dom Pixote andarilho
Inverteu o estribilho
Inventou um refrão
Pra gente cantar
Levantei o pó da estrada e gostei
Mas nuvens de chumbo pairavam no ar
O gigante que guardava o caminho
Com punhos e pontas de espinho
Assim eu não deixo ficar
Já é tarde e eu não vou me calar
Eu não posso mais
Um dois três e já…
O menino ganhou mundo
Pulou num segundo
As janelas, partiu
Dom Pixote andarilho
Inverteu o estribilho
Inventou um refrão
Pra gente cantar
Dom Pixote hoje é Cervantes e mora
Em muitas histórias
Quem há de negar?
Todo mundo tem um sonho a seguir
E de quem é a vez?
Um, dois, três e já!
Um, dois, três e já!
Um, dois, três e já!
Cadafalso (Felipe Radicetti e Cristina Saraiva)
Apressado
O rapaz descuidado
Não olha pro lado
Não ouve
O pranto da rua
Não vê sol, não vê lua
Não recua diante da dor
Nem repara
No triste cenário diário
De quem tem na vida
Um eterno calvário
E segue à custa
De brisa e rosário
E as vezes, um sonho de amor
Dia a dia
O rapaz passa ao largo
Desse cálice amargo
Covardia ou fatal distração?
Todo dia
Apressado
O rapaz, sem supor
Anda ao lado da morte e da dor.
Distraído
Não vê pé descalço
Criança em concreto
E fumaça
No meio da praça
Não enxerga, cadafalso
Bem armado no centro da dor
Ou disfarça
E passa em seu passo apressado
Se esquiva, se cala ao ver o menino
Com seu destino trançado na bala
Já selado, escrito na mão.
Dia a dia
O rapaz passa ao largo
Desse cálice amargo
Covardia, ou fatal distração?
Todo dia
Apressado
O rapaz, sem supor
Anda ao lado da morte e da dor.
Andes (Felipe Radicetti)
Eu canto as canções e as canseiras
As costas dessas costureiras
Equívocos, esses nem contam mais;
Eu nunca fui muito dócil.
Eu nunca fui muito hábil.
Eu busco os tesouros e as tesouras
Desses senhores que armam troças
Mas essas senhoras com quem tropeço
Caro ouvinte é o mais difícil.
Foi sempre o mais difícil.
Meus passos seguem tateantes
Até ter os pés nos Andes, afinal;
Eu nunca entendi o missal
E a ainda a minha náusea de sempre.
Tomara que enfim eu tome um rumo
Que eu cumpra a caçada seminal
Eu acho tudo tão normal
Ainda que fora do prumo.
Medida (Felipe Radicetti e Felipe Cerquize)
Nem tão forte que nos tire o norte
Nem tão lento que não faça vento
Nem tão dentro que morra no centro
Nem tão fora que deva ir embora
Que deva ir embora
Nem retrato como substrato
Nem miragem como sabotagem
Nem tão certo que nos deixe perto
Nem tão falho que evite o atalho
Evite o atalho
Nem tão alto que tombe do salto
Nem tão baixo, senão eu não encaixo
Nem tão longo que abafe o gongo
Nem tão curto que suma com o surto
Nem tão curto
Nem tão feio que cause o receio
Nem tão belo que leve ao flagelo
Nem tão bravo que chegue ao agravo
Nem tão manso, senão eu me canso
Nem tão belo
Nem tão chique que tenha chilique
Nem tão brega que entregue a regra
Nem tortura numa ditadura
Nem ser dono do próprio abandono
Nem tão forte que morra no centro
Nem tão lento que deva ir embora
Nem tão dentro que nos tire o norte
Nem tão fora que fique ao relento
Que não faça vento
Nem retrato que nos deixe perto
Nem miragem que evite o atalho
Nem tão certo como substrato
Nem tão falho como sabotagem
Evite o atalho
Nem tão alto que abafe o gongo
Nem tão baixo que suma num surto
Nem tão longo que tombe do salto
Nem tão curto senão eu não encaixo
Nem tão curto
Nem tão feio que chegue ao agravo
Nem tão belo, senão eu me canso
Nem tão bravo que cause receio
Nem tão manso que leve ao flagelo
Nem tão belo
Nem tão chique que tenha chilique
Nem tão brega que entregue a regra
Nem tortura numa ditadura
Nem ser dono do próprio abandono
Muito fria, congela a poesia
Muito quente, queima o amor da gente.
Dois sem Par (Felipe Radicetti e Cristina Saraiva)
O corte, o fel, o sal mesmo gosto amargo
O pranto, o não
É tudo normal
O gesto, a dor, o mal, frases e navalhas
Tá bem, no fim
É tão natural
Os dias iguais
A guerra do olhar
Sim, vê
Palavras mortais
Deixe estar
É normal.
O vento, a noite, o pó, o mesmo silencio
Alguém tão só, mais nada a falar
A cama, a casa, o lar
Restos de uma história
São dois sem par
Num mesmo lugar
Ninguém percebeu
Ninguém quis olhar
Não há
Nem sombra de amor
Deixe estar
É normal.
Deixe tudo assim
Assim como está
Dois sem par
Deixe tudo assim
Dois sem par
O vento, a noite, o pó, o mesmo silencio
Alguém tão só, mais nada a falar
A cama, a casa, o lar
Restos de uma história
São dois sem par
Num mesmo lugar
Ninguém percebeu
Ninguém quis olhar
Não há
Nem sombra de amor
Deixe estar
É normal
Deixe tudo assim
Assim como está
Dois sem par
É melhor deixar
Assim como está
Dois sem par
Deixe tudo assim
Assim como está
Dois sem par
É melhor deixar
Assim como está.
O Louco (Felipe Radicetti e Cristina Saraiva)
Um lado quer
Se entrega e trai
O lado “nunca mais”
E o louco então,
Se enreda, vai
Um lado é mar
Aberto à dor
Um louco sonhador
Que ainda crê
No grande amor.
E cego vai sem se importar
Se há pedra, há farpa no chão
Se a dor espreita sem perdão
Se seu olhar é ilusão
Olha o laço
Sorri e vai, vai no encalço
Do perigo de um amor
Que faz sangrar, que já cortou
Um lado é sim
E cala em mim
O lado “nunca mais”
O louco vai,
Sem me escutar
Um lado diz
O que eu não quis
O que eu tentei negar
O louco assim
Diz que é feliz
Se penso enfim me proteger
Se quero e espero ficar
O louco vai em meu lugar
Me lança ao fogo sem pensar
Olha o laço
Sorri e vai, vai no encalço
Do encanto de um amor
Me leva assim e assim eu vou
Me entrego, fico em suas mãos
Eu Fecho os olhos, sigo então
Mesmo passo
Um mesmo andar, meu companheiro,
O louco lado manda em mim
O outro lado quer assim
E assim seu jogo eu faço
Eu em seu laço
Eu e esse lado
Sim.
Nieblas (Felipe Radicetti e Arnoldo Medeiros)
¿Viento de la sierra
Cuantos secretos guardas tu?
¿De cuantas tristezas sabes tu?
¿Me llevarás Bien lejos al mar?
Por la niebla Vendrás
¿Viento que me guía
Cuanta alegría vistes tu?
¿De cuantos amores vienes tu?
¿Recordarás Aromas del mar?
Me hace falta
Llegar
Soñar!
Línea del agua, cruzar
Hilo del alma, buscar
Adivinar
Desvendaré en ti
El amor
Piedras del muelle, anhelar
Embarcaderos, dejar
Se desatar
Desplegar la cruz
De un dolor
Yo te quiero luz!
-Yo te quiero luz!
¿Viento que me asusta
Cuantas angustias traes tu?
¿Qué miedos y llantos tienes tu?
¿Me_escucharás
Orilla del mar?
Me hace falta
Llorar.
Ojos que me gustan
Sueña mi sueño y zarparás
Abre ventanas y entenderás
El río es
Sendero del mar
Y te quiero Amar
Amar!
Cuerpos girando en la luz
Te enciendo incensos hindus
Acariciar
Al compás lunar
Te saciar
Desnudaré tu pasión
Seduciré la ilusión
Codiciaré
A tus labios más
Siempre más
Yo te quiero, si!
Yo te quiero así!
Albeggiare (Felipe Radicetti e Cristina Saraiva, versão italiana de Anteo)
Sorgi già, chiara stella
Sulla notte
E vaga intimità.
Sulle acque scure, il sale Il male, più non so ormai
E camminare, così serena
Sui venti
Che traggono senza età
Tanti sogni, fiori, giardini,
E poi, più non so ormai
E comè, rinascere per te: non importa quel che contò?
Distarsi sempre sola, a uma nuova felicità?
Come non soffrire, come brillare?
Comé éssere solo stella?
Sorgi già, chiara stella
Sulla notte
E sul mio contemplare
Chissà che un giorno,
E poi, se puoi, nascere tu possa in me.
Relicário de São Miguel (Felipe Radicetti)
Arcanjo, estás
Comigo aqui
Antigo e repentino;
Como um licor, me conduziu
A todos os ardis?
Do alto destes prédios
Me lançaste para o fim
E assim, meu protetor e meu assassino.
Voar em sonho é tão bom
Será que fui em tuas asas?
Miguel, nas noites que acordei
Sem voz, sem ar, aos sobressaltos?
És o menino meu
Que trago ao colo
Por todo o tempo que eu viver?
Há quanto estás
Comigo aqui
Com tantas regalias?
Com estas asas
Em marfim,
Cravadas sobre mim?
Como raízes que me erguessem
Desde que nasci
E ainda me esvaísse uma sangria.
Diadema (Felipe Radicetti e Arnoldo Medeiros)
Ilê-ayê mãe-maré
Amaralina (mãe-maré)
Ilê-ayê mãe-maré
Amaralina
Seu sorriso permanente
Na entrelinha das tristezas
Como pausa de alegria
Nos momentos de incerteza
Alma calma, palma d’água
Lapidada de poemas
Gema rara cintilante
Diadema em minha vida
Ginga linda qual mandinga
Lua nova, luz bem-vinda
O feitio da atração
Arsenal do sensual
Você é toda essa malícia
Com um toque de delícia
A argúcia e sentimento
Tão sensível e carinhosa
Você é toda essa gana
De viver com alegria
Até quando tudo falha
Ou o alento se esvazia
Você é essa coragem
Sem engano e sem miragens
Preto e branco das agruras
Coloridas com ternura
Você é essa paixão
A imagem mais querida
Sanha, sexo, chama e lírio Meu altar e meu delírio.
Primeira (Felipe Radicetti e Juca Novaes)
O primeiro olhar foi como flecha tão certeira
O primeiro toque teu veneno, feiticeira
Primeira lua cheia, primeira brincadeira
A primeira vez foi uma festa em meu coração
O primeiro beijo acendeu tantas fogueiras
O primeiro amor assim de todas as maneiras
Estradas, cachoeiras, a pressa e as promessas
As primeiras juras e o primeiro desamor
O primeiro norte
O primeiro corte foi você
Primeira morte.
O primeiro sonho, tua vida por inteira
O primeiro fogo nos teus braços, companheira
primeiras rezadeiras, ciganas, benzedeiras
Primeiras alianças e o primeiro dissabor
A primeira rima
O primeiro clima foi você
Primeira sina.
A primeira dança, a primeira vez, meu primeiro algoz,
o primeiro amor ficou na poeira
A primeira dança, a primeira vez, meu primeiro algoz,
o primeiro amor ficou na poeira
foi na corredeira …
Retrato de Poeta (Felipe Radicetti e Marcelo Biar)
Meu hóspede é ártico silêncio
Imenso e solitário.
Um pai tão insolente e frágil
Age assim, conspirador.
Alerta um pouco além dos meus presságios.
Eu canto sem saber
A quem vai libertar.
Alheio ao temerário precipício
O ofício incendiário
(Ofídio de olhar oblíquo)
Cerca os réus num corredor:
A escolha do extremo mais longínquo.
Paredes entre nós
São finas, vão cair.
Como se não bastasse ser impróprio
O louco do baralho
(O andarilho vil que me despiu dos véus)
Meu traidor
A porta e o atalho para o exílio.
Meu hóspede é feito benefício
De um vício ordinário
Um pai tão implicante eleito por amor
Meu trovador
Se ergue como sombra sobre o meu dossel.
Ficha Técnica
Canto de Roda da Pedra do Sal (Felipe Radicetti)
Voz: Felipe Radicetti
Violão, viola caipira e percussão: João Cantiber
Coro: Clarisse Grova, Luana e Marianna Leporace
Arranjo e programação de base eletrônica: Felipe Radicetti
Dom Pixote (Felipe Radicetti e Marcelo Biar)
Voz: Clarisse Grova
Piano: Felipe Radicetti
Violão e percussões: João Cantiber
Flautas: Guilherme Hermolin e Flavio Paiva
Arranjo e programação de base eletrônica: Felipe Radicetti
Cadafalso (Felipe Radicetti e Cristina Saraiva)
Voz: Felipe Radicetti e Chico Adnet
Violão e percussões: João Cantiber
Bandolim: Rodrigo Lessa
Flautas: Guilherme Hermolin e Flavio Paiva
Coro: Chico Adnet, Felipe Radicetti e Raphael Bessa
Arranjo, teclados e programação de base eletrônica: Felipe Radicetti
Andes (Felipe Radicetti)
Voz e piano: Felipe Radicetti
Violão e set de berimbaus: Dalmo Mota
Violinos: Denise Pedrassoli
Violas: Deborah Cheyne
Arranjo e programação de base eletrônica: Felipe Radicetti
Medida (Felipe Radicetti e Felipe Cerquize)
Voz: Juliana Rubim
Piano e órgão Hammond: Felipe Radicetti
Violão e percussões: João Cantiber
Arranjo e programação de base eletrônica: Felipe Radicetti
Dois sem Par (Felipe Radicetti e Cristina Saraiva)
Voz: Luana
Piano elétrico e 2a. voz: Felipe Radicetti
Guitarra, violão e percussões: João Cantiber
Coro: Clarisse Grova, Diana Goulart e Marianna Leporace
Arranjo e programação de base eletrônica: Felipe Radicetti
O Louco (Felipe Radicetti e Cristina Saraiva)
Voz e piano: Felipe Radicetti
Violão: João Cantiber.
Violinos: Denise Pedrassoli e Oswaldo Carvalho
Violas: Déborah Cheyne
Cello: Hugo Pilger.
Nieblas (Felipe Radicetti e Arnoldo Medeiros)
Voz: Felipe Radicetti.
Violão e percussões: João Cantiber
Arranjo e programação de base eletrônica: Felipe Radicetti
Albeggiare (Felipe Radicetti e Cristina Saraiva, versão italiana de Anteo)
Voz: Marianna Leporace
Piano: Felipe Radicetti
Guitarra: João Cantiber
Coro: Folia de 3: Cacala Carvalho, Eliane Tassis e Marianna Leporace
Relicário de São Miguel (Felipe Radicetti)
Voz e órgão Hammond: Felipe Radicetti
Violão e percussões: João Cantiber
Flugelhorn: Guta Menezes
Arranjo e programação de base eletrônica: Felipe Radicett
Diadema (Felipe Radicetti e Arnoldo Medeiros)
Voz: Ladston do Nascimento
Piano elétrico e tambor cheyenne: Felipe Radicetti
Guitarra e percussões: João Cantiber
Coro: Clarisse Grova, Diana Goulart e Marianna Leporace
Arranjo e programação de base eletrônica: Felipe Radicetti
Primeira (Felipe Radicetti e Juca Novaes)
Grupo vocal Trovadores Urbanos (Maída Novaes, Valéria Caram, Juca Novaes e Edu Santana)
Órgão Hammond: Felipe Radicetti
Arranjo e programação de base eletrônica: Felipe Radicetti
Retrato de Poeta (Felipe Radicetti e Marcelo Biar)
Voz e piano: Felipe Radicetti
Flautas em Sol: Flavio Paiva e Guilherme Hermolin
Violinos: Denise Pedrassoli e Oswaldo Carvalho
Violas: Déborah Cheyne
Cello: Hugo Pilger
Coro: Clarisse Grova, Diana Goulart. Luana e Marianna Leporace
Citações
“Arranjos modernos, mixagem preciosa, cheia de ricos detalhes e canções inspiradas, embaladas pelo belíssimo projeto gráfico fazem desta fantasia uma rica mostra autoral do que é a vida para Felipe Radicetti”
Aquiles Rique Reis, 12 de março de 2009
“Sagrado Profano é uma ópera-pop-popular. Superprodução caprichada que mistura ideias musicais, visões poéticas e informação visual. Obra de arte múltipla e rica criada e regida por Felipe Radicetti. Desses trabalhos que valem uma vida inteira, maduro e muito bem construído. Criação sagrada”
Beto Feitosa, Ziriguidum, 17 de fevereiro de 2009