América – Felipe Radicetti

CD America - Felipe Radicetti
Release Date: 2015-12-02
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Declaração de amor à América do Sul

O CD  “América” é uma declaração de amor à América do Sul, algumas músicas evocam o processo civilizatório da colonização, a história recente desses países ainda convalescentes de cruéis ditaduras militares, com cicatrizes a serem revistadas; outras discutem, como crônicas, o trabalho do homem, o trabalho infantil e o trabalho da mulher no campo. Em suma, um ciclo de canções que busca os laços identitários que nos unem como latinoamericanos, num processo semelhante de luta e de construção de cidadania. A obra foi criada, arranjada e produzida por Felipe Radicetti. Todas as canções buscam refletir e reivindicar a vida do povo da América do Sul, com o objetivo de fortalecer esses laços entre os povos americanos, colocando, no centro, como objeto e temática, aqueles que se sentem periféricos no mundo.

LETRAS

Outro Canto Americano (Felipe Radicetti e Marcelo Biar)

Resistir, recusar
Salve a América
Insistir, levantar
Salve a América

Aportaram nossas vidas
Porto Rico, Vera Cruz
A cruz e a espada, a espada
(In hoc signo vinces)
A primeira missa
Alma e carniça
(em nome de Deus)

Resistir, recusar…

Campos, fome, minas, morte
Nossa carne à mercê
À mercê do mesmo corte, o mesmo corte
Nos amarram ao tronco
pelo ouro e cobre
tiram nosso couro
golpe após golpe

Resistir, recusar…

Povos, tribos, cabras cegas
Cabras  moucas, perdições
Rotos, tato de leproso, de leproso
entre nossas vidas
no abismo eterno
eu caio, eu berro
eu berro, eu berro.

Resistir, recusar…

Quartos, camas, separados
quarteladas, confissões             
fardos, coitos inventados, inventados
Lambo a sua lingua
desejo outro beijo
meu desejo não é
o que eu desejo

Resistir, recusar…

Quero ser também carrasco
Ser senhor, o teu senhor
te conduzir à dor, parir a dor
Atar os teus braços
com as tuas tripas
Te ensinar quem és, quem sou,
Serás quem eu quiser.

Última Canção Indigenista (Felipe Radicetti e Felipe Cerquize)

Espreita Xavante e Tupinambá,
Prepara Ajuru, Tremembé, Aruá!
Não recuar nem um palmo de sonho,
Não vou recuar nem um palmo de chão.

É hora Ianomâmi e Apalaí,
Membira quer ver renascer buriti!
Não recuar nem um palmo de sonho,
Não vou recuar nem um palmo de chão.

E toda a nação Guarani-Kaiowá,
E Tingui-Botó, Caiapó, Karajá!
Não recuar nem um palmo de sonho,
Não vou recuar nem um palmo de chão!

É hora, Ticuna, grita Muriti,
A quimera do povo Yawalapiti!
Não recuar nem um palmo de sonho,
Não vou recuar nem um palmo de chão.

Espreita guerreiro Ofaié, Kadiwéu,
Canindé sabe que o sangue sempre correu!
Não recuar nem um palmo de sonho,
Não vou recuar nem um palmo de chão!

Ardia Jaci pelo dia de ver
vertidos no chão, beijos de Amanacy!
Não recuar nem um palmo de sonho,
Não vou recuar nem um palmo de chão.

Não recuar nem um palmo de sonho,
Não vou recuar nem um palmo de chão!

O Canto dos Meninos do Campo (Felipe Radicetti)

Menino golpeando a cana: tum baticum baticum sem parar, 

A cana tem gosto amargo: tum baticum baticum sem parar. 

– Já prometemo, vamo resisti, canavieiro, canavieiro! 

– O meu dinheiro um dia há de vi, canavieiro, canavieiro! 

 

Menino ensacando o carvão é tum baticum baticum sem parar, 

O carvão tem gosto mais amargo: tum baticum baticum sem parar. 

– Já prometemo, vamo resisti, ê carvoeiro, ê carvoeiro! 

– O meu dinheiro um dia há de vi, ê carvoeiro, ê carvoeiro! 

 

Menino ilumina o caminho: é tum baticum baticum sem parar, 

O medo que bate no peito: tum baticum baticum sem parar. 

já prometemo, vamo resistir, guia candeeiro, candeeiro! 

O meu dinheiro um dia há de vi, guia candeeiro, candeeiro! 

 

Menino miúdo trabalha, é tum baticum baticum sem parar, 

é bambolear na cangalha é tum baticum baticum sem parar. 

já prometemo, vamo resisti, feito espantalho, feito espantalho! 

O meu dinheiro um dia há de vi, do meu trabalho, do meu trabalho!

Sendero Americano (Felipe Radicetti e Sérgio Ricardo)

Mi canto es americano

Es un grito, es un vuelo, es un pájaro

Es vuelo blanco bajo el cielo.         

Mi cielo es americano

Por donde vuela blanca esperanza

blanca de todo el pueblo.        

Mi pueblo es americano  

Sonrisas blancas, manos blancas, negros cabellos. 

 

Mis negros americanos  

Color de hermanos, color-dolor.

Besame rosa de sangre

Rojo es el color del alma.      

  

Mi dolor americano

Es el canto de los senderos

Del hombre campo por los caminos.

Mi camino americano.

           

Mi camino americano   

Mi camino es abrirlo de las amarras

Mano en la mano del hombre hombre. 

Hambre, hambre americana     

Es pájaro cautivo en la tierra

con ganas de vuelo blanco.

Vuelo blanco americano

En la noche oscura, noche de su dolor.  

Casa de Mãe, Casa de Filha (Felipe Radicetti e Luhli)

Ser você, 

Não quis, eu soube negar você

Um dia, 

Minha vida coube em tuas mãos

Saltei, meus pequenos pés

E o teu sabor, lágrima no teu batom

Maciez de edredon

Fui crescer e te perdi

    

Te encontrei

Por ser tão avessa me espelhei 

Por dentro

Pelas tuas lutas me enredei

Abracei tantos ideais e protestei

Atirei, palavras fiz, do não um sim

Da voz, clarim

Tão real teu grito em mim

 

Vem, mãe, deixa

Tanto medo

Dores, pranto

Resta a dança

 

Vem, mãe, deixa

Cada aurora 

Brasa viva

Esperança

 

Você, viva 

Eu, você

 

Ser mulher é ser

Os seres todos em um só

Corrente, somos elos,

Tempos dando um nó

Tanto faz quem é filha ou mãe

Eu vim te ver

Amanheceu

Trouxe o jornal

Vem que eu passo o teu café

Bebe teu silencio em paz.

Aurora (Felipe Radicetti e Etel Frota)

Dia que acabou

todo o azul se foi

céu escureceu

noite tudo engoliu

sol que afundou no mar

 

Só a escuridão

escondeu-se a cor

pra reacender

numa nova manhã

num outro céu

 

Mundo entardecendo

num céu de verão:

pôr-do-sol

Mundo renascendo

na manhã azul:

Aurora

 

Chama que se esvai

vida já no fim:

pôr-do-sol

Vida que chegou

anunciação:

Aurora

 

Tudo vai e vem

lei da perfeição

Deixa o velho ir

Deixa o novo nascer

Ressurreição

Cine Poema (Felipe Radicetti e Socorro Lira)

Já morri muitas vezes no poema

e de tanto morrer, já fui eterna

já morri tantas vezes no cinema

outras vezes, de dor, perdi a perna

tantas vezes, de amor, paguei a pena

muitas vezes, de flor, ganhei a guerra

quantas vezes ressuscitei de novo!

tantas vidas valeu viver na terra

 

É a porta que dá para o inferno

É, a arte, a passagem perdida

É a porta que dá para o eterno

É, a arte, a porteira escondida

 

já vivi mais de mil ou dez mil anos

e, por outra, morri valendo a pena

para me explicar por tanta vida 

não há lógica, sequer, um teorema 

Eu morri e revivi em muitos temas

já sofri na canção, o que na vida

impossível seria suportar

e, por isso, cantar é a saída

 

É a porta que dá para o inferno

É, a arte, a passagem perdida

É a porta que dá para o eterno

É, a arte, a porteira escondida

Riacho de Areia (Beira-mar) - Tradição Oral

I

Beira-Mar novo

Foi só eu é que cantei

Ô beira mar, adeus dona

Adeus riacho de areia

 

Tô remando minha canoa

Lá pro poço do pesqueiro

Ô beira mar, adeus dona

Adeus riacho de areia

      

Adeus, adeus, toma adeus

Eu já vou-me embora

Eu morava no fundo d’água

Não sei quando eu voltarei

Eu sou canoeiro

 

II

Eu não moro aqui

Nem aqui quero morar

Ô beira mar, adeus dona

Adeus riacho de areia

 

Moro na casca da lima

No caroço do juá

Ô beira mar, adeus dona

Adeus riacho de areia

 

Adeus, adeus, toma adeus

Eu já vou-me embora

Eu morava no fundo d’água

Não sei quando voltarei

Eu sou canoeiro

 

III

Quando eu sair daqui

Vou sair daqui avoando

Ô beira mar, adeus dona

Adeus riacho de areia

 

Para o povo não dizer 

que eu saí daqui chorando

Ô beira mar, adeus dona

Adeus riacho de areia

 

Adeus, adeus, toma adeus

Eu já vou-me embora

Eu morava no fundo d’água

Não sei quando voltarei

Eu sou canoeiro

 

IV

Vou descendo rio abaixo

Numa canoa furada

Ô beira mar, adeus dona

Adeus riacho de areia

 

Arriscando minha vida 

Por uma coisinha de nada

Ô beira mar, adeus dona

Adeus riacho de areia

 

Adeus, adeus, toma adeus

Eu já vou-me embora

Eu morava no fundo d’água

Não sei quando voltarei

Eu sou canoeiro

 

V

Rio abaixo, Rio acima

Tudo isso já andei

Ô beira mar, adeus dona

Adeus riacho de areia

 

Procurando amor de longe

Que o de perto já deixei

Ô beira mar, adeus dona

Adeus riacho de areia

 

Adeus, adeus, toma adeus

Eu já vou-me embora

Eu morava no fundo d’água

Não sei quando eu voltarei

Eu sou canoeiro

Amor de Dois Mendigos (Felipe Radicetti e Sérgio Ricardo)

Vinham sem brilho

Da mais tênue luz de vida

Ao triscar pela avenida

Uma centelha de amor

 

Cobrindo a Lua

A noite, em cumplicidade

Escondia as emboscadas

Do destino zombador

 

No asfalto escuro

De alma e corpo desnudados

Tanto amor foi alcançado

Que nem tolo ousou se opor

 

Clarões de orgasmos

Qual faróis jorrando nesgas

Projetavam gigantescas

Suas sombras ao redor

 

No asfalto escuro

De alma e corpo desnudados

Tanto amor foi alcançado

Que nem tolo ousou se opor

Balada de Olga e Prestes (Felipe Radicetti e Marcelo Biar)

  1. Olga

Trago ao ventre a flor

A rubra flor

Do nosso amor

Tão solidário

 

Entre os dentes trago outubros 

gritos de rebelião

Sementes

Juntos, como irmãos, o trigo e o pão 

Na preparação de um novo mundo

Conjurando um mesmo sonho:

 

Frutos para todos!                         

Deveriam ser de todos!

Sonhos que nos levarão 

Leves para além do sonho!

 

  1. Prestes

Espalhe ao vento

No campo ou cidade

A rosa rubra, amor!

A libertária flor

 

Seguindo em frente tanta gente como irmãos, 

invertendo a solidão 

São vermelhos nossos sonhos em botão

Brotam como elos de libertação

Camaradas, somos livres: união, trabalho, o solidário pão!

 

Pão de grão em mão de irmão, 

revolta terra, semeada de revolução.

 

Trago a rubra flor, a rubra flor!

Como posso Saber? (Felipe Radicetti)

Como posso saber quando é jornalismo

Se volta e meia eu cismo que tem boi no texto?

O cinismo dessa gente até me deixa pasmo

O pretexto vem oculto e eu é que não presto?

 

Como posso saber que o quer assista

Assalta a minha mente mesmo sem licença

O que é anunciado nunca deixa pista

Da vigarice feita em nome da imprensa

 

Não se deixe arrastar!

Então de quê você tem medo? (Como posso saber?)

Amiúde parece, padece a informação

Avessa à precisão, investe sobre o juízo.

 

Não se deixe arrastar!

Então de quê você tem medo? (Como posso saber?)

É muito lance de corsário desfazendo o enredo

E o leitor vai enredado na teia sem um aviso!

 

Como posso saber o que é verdadeiro

Se até o paradeiro do fato é incerto?

Se inverto o sentido posto por inteiro

Aposto que um posseiro foi o mais esperto!

 

Como posso saber o que é encoberto?

Olhando bem de perto vê-se outro intento!

Não é só o costume de ter como certo

O meio como molda o modo do pensamento.

 

Não se deixe arrastar!

Então de quê você tem medo? (Como posso saber?)

Amiúde parece, padece a informação

Avessa à precisão, investe sobre o juízo.

 

Não se deixe arrastar!

Então de quê você tem medo? (Como posso saber?)

É muito lance de corsário desfazendo o enredo

E o leitor vai enredado na teia sem um aviso!

 

Não se deixe arrastar!

Então de quê você tem medo?

Nem toda mídia engrandece o ofício que abraça

Esse vício infértil cassa-consciência.

 

Não se deixe arrastar!

Então de quê você tem medo?

A palo seco a gente segue singrando essa onda

Quem sabe assim desinformada a opinião é livre.

Urupemba (Felipe Radicetti e Sérgio Ricardo)

Pois da terra faz-se o barro

do barro o homem se faz

E do homem faz-se o povo

de quem se faz e desfaz

 

O garimpeiro pondera,

A memória é uma urupemba

por onde a história se escoa

deixa o cascalho da lenda

 

Pois da terra faz-se o barro

do barro o homem se faz

E do homem faz-se o povo

de quem se faz e desfaz

 

Com ela refaz-se a terra

o barro, o homem e o povo

que sua história desvenda

com a urupemba de novo

 

A memória é uma urupemba

deixa o cascalho da lenda.

Desejo Meu (Felipe Radicetti)

Desejo é feito muro alto, alto de nem se ver

Impele essa chama, a chama aislada do tempo

Tanto me aquece, me deixa de fora

Tanto inflama quanto adoece

Desejo meu, desejo meu.

 

Desejo é feito estar vivo e dentro, fundo na terra

Quieto, em silêncio, ouvindo o rugido do mundo

Enquanto acima o tempo devasta

Abaixo conserva fecundo

Desejo meu, desejo meu. 

 

Desejo meu, desejo meu.

Ficha Técnica

Outro Canto Americano

Música de Felipe Radicetti

Letra de Marcelo Biar

Felipe Radicetti: voz, piano elétrico e programação de baixo.

João Cantiber: violões e percussões.

Daniel Drummond: guitarra.

 

Última canção indigenista

Música de Felipe Radicetti

Letra de Felipe Cerquize

Felipe Radicetti: voz, piano elétrico, sintetizador e programação de baixo.

João Cantiber: violão (percutido) e viola caipira.

 

O canto dos meninos do campo

Música e letra de Felipe Radicetti

Felipe Radicetti: voz, piano elétrico e programação de baixo.

João Cantiber: violões, viola caipira e percussões.

Coro: Luana, Mari Blue e Felipe Radicetti.

 

Sendero Americano

Música de Felipe Radicetti

Letra de Sergio Ricardo

Adriana Ríos: voz

Felipe Radicetti: voz, piano elétrico, sintetizador e programação de baixo.

João Cantiber: violão e percussões.

 

Casa de mãe, casa de filha

Música de Felipe Radicetti

Letra de Luhli

Marianna Leporace: voz

Felipe Radicetti: piano.

 

Aurora

Música de Felipe Radicetti

Letra de Etel Frota

Felipe Radicetti: voz, piano, piano elétrico e programação de baixo.

Daniel Drummond: guitarra.

 

Um canto de trabalho

Música da Felipe Radicetti

Felipe Radicetti: voz, piano elétrico e programação de baixo.

João Cantiber: violões e percussão.

Coro: Luana, Mari Blue e Felipe Radicetti

 

Cine Poema

Música de Felipe Radicetti

Letra de Socorro Lira

Felipe Radicetti: voz, piano elétrico e programação de baixo.

João Cantiber: violões, viola caipira e percussões.

 

Riacho de Areia

(tradição oral)

Felipe Radicetti: voz e processamento eletronico dos violões e viola.

João Cantiber: violões e viola caipira.

 

Amor de dois mendigos (Amor pela Avenida)

Música de Felipe Radicetti

Letra de Sérgio Ricardo

Felipe Radicetti: voz, piano elétrico e programação de baixo.

João Cantiber: violão nylon, guitarra e percussões.

Guilherme Hermolin: flautas em sol.

 

Balada de Olga e Prestes

Música de Felipe Radicetti

Letra de Marcelo Biar

Marianna Leporace: voz

Felipe Radicetti: voz e piano.

Itamar Assieri: acordeão.

 

Como posso saber?

Música e letra de Felipe Radicetti

Dhenni Santos: voz

Felipe Radicetti: voz, piano elétrico e programação de baixo.

João Cantiber: violões e percussões.

Coro: Diana Goulart, Luana e Marianna Leporace.

 

Urupemba

Música de Felipe Radicetti

Letra de Sergio Ricardo

Felipe Radicetti: voz, piano elétrico e programação de baixo

João Cantiber: violões e percussões.

Guilherme Hermolin: flautas em dó e em sol.

 

Desejo meu

Música e letra de Felipe Radicetti

Felipe Radicetti: voz e piano, programação de baixo.

João Cantiber: guitarra e percussão.