Super Lisa – Clarisse Grova e Felipe Radicetti

Release Date: 2003-01-28
Available now on:
Loading tracks...

Superlisa, a síntese da MPB com a música eletrônica

Superlisa é Clarisse Grova e Felipe Radicetti. A dupla de artistas estreou o CD em 2003. Em 2005 foi licenciado pelo selo Koala Records no Japão e uma nova edição em 2006 no Brasil. Motivados pelo que há de mais universal na música a sonoridade e atentos às possibilidades tecnológicas a serviço da arte, os dois artistas reúnem nesse cd 12 composições de ambos e de cada um com outros parceiros e uma única releitura: Ternura antiga, de Dolores Duran e J. Ribamar, todas elas sustentadas pela voz vigorosa e precisa de Clarisse amalgamada nos arranjos de Felipe com o mais moderno e emergente da música internacional.

LETRAS

Rude Pedra (Felipe Radicetti e Luísa Haranda)

Chega de me perseguir
De tentar me pegar, me conter
De tentar me impedir
Pare de me insultar com a sua presença
Com a sua licença eu quero seguir
Pare de me invadir
De tentar me agarrar, me ferir
De me atazanar
Pare de me atrapalhar
De se enredar nos meus passos
Rompi com todos os laços
Você ainda quer insistir?
Teu desespero é pedra.

A pedra é rude
Roda a loucura toda
Pedra é assim
A perda é dura.

Chega de tentar me seguir
Me acusar, de tentar me vencer
De tentar me dividir
Pare de me espionar
De mentir o tempo todo, por tudo
Eu tenho de vomitar
Pare de me consumir
Me trair, me doer, pare
Pare de me sufocar
Pare de me provocar
De comover os meus ossos
De reunir os destroços
Você ainda quer insistir?
Teu desespero é pedra.

O Tal Trem (Clarisse Grova)

Será que eu já passei da idade
Será que perdi o lugar no tal trem
Será que meu texto é bobagem
Que eu não entendi o que disse Caetano, Buarque e Noel
Quando o apito da fábrica tocou
Alegria, Alegria.

Será que isso é modernidade
Será que isso tudo é amor de verdade
Será que será...
Onde é que isso vai dar...

Quem sabe dizer onde anda
A saudade que o velho Vinícius deixou
Quem sabe onde mora a felicidade
Que o Tom nosso mestre tocou

Quem sabe cantar Beatriz
Quem sabe da voz de Elis
Pede bis
Por favor...

Marrento (Clarisse Grova e Felipe Radicetti)

Toda vez que ele chega por aqui
Com sorriso no canto da boca
Com certeza ele vem pra seduzir
Ele sabe o que quer não vai sair
Enquanto não cumprir o seu intento.
O cara é marrento.

Diz que é autor da lei número tal
Que saiu no Diário Oficial
Que é calúnia o que dizem no jornal
Que vai melhorar nosso carnaval
Que vai distribuir muito alimento.
O cara é marrento.

Como é que esse mal nunca se acaba
Tanto voto em urna funerária
Quando alguém quer fazer força contrária
É desfeito na roda da moenda
Entenda que tudo ainda desaba
Mesmo que essa lição nunca se aprenda.

Ele cuida até do seu visual
Chega de um jeito assim meio informal
Mete um jeans e camisa social
Diz que é da Igreja Pentecostal
Do Segundo dia do Advento.
O cara é nojento.

Cita um trecho do novo evangelho
Beija a fronte suada de um velho
Agradece toda a confiança
Em seu colo uma linda criança
Diz que ali está nossa esperança.
O cara não cansa.

Como é que esse mal nunca se acaba
Tanto voto em urna funerária
Quando alguém quer fazer força contrária
É desfeito na roda da moenda
Entenda que tudo ainda desaba
Mesmo que essa lição nunca se aprenda.

Indiviso (Felipe Radicetti e Cristina Saraiva)

Eu desenho um traço e vou
Sem desvio em meu passo vou, sim
Como um rio em seu curso vai, sempre
vento que sinto e passa vai, mesmo ar

Entre as mãos o que passou, ou virá
sonho ou chão real, os passos são meus
deixo meu sinal – meus passos sou eu
eu me acho em meu traço e vou

Não me faço em pedaço, não
Não carrego outro nome não, viu?
Olha as cores que tem o mar, tantas
chumbo bravio, calmo azul, mesmo mar

Olho o sol, o temporal, o bem, mal 
noite ou luz vital - os olhos são meus
Faço um carnaval - meus olhos sou eu

No amor que vem, dor que vai
no amor que vai, dor que vem
na fusão me eternizo
indiviso eu sigo além

Livro em Branco (Felipe Radicetti)

Em branco, pombos e suas palmas,
tão brancos, estão sempre chegando.
eu posso ver, são persianas,
de um lado há sempre alguma luz.

Mas e vocês, eu digo, sempre tão tensos
e eu intenso, intenso sempre,
o que posso aqui, escasso, em branco,
e sob o escárnio de vocês?

O fundo do poço é branco.
o oco do tronco e do osso,
o passo e o traço que deixa é branco.

Assim como o rosto da gueixa,
o corte e o gole na farda,
o espanto da meretriz é branco.

Diante do pai quando chega,
o vidro do meu olho imerso
e o lapso num louco que passa é branco.

O que fica depois da partida,
ou no primeiro olhar em vida,
o que se vê? O que se vê?

Senhora (Felipe Radicetti e Marcelo Biar)

À noite eu abro as portas deste meu salão
E entram senhores que embora morem em imensas mansões
Possuem trancas nos seus portões
Não entram ...não deixam entrar

Banqueiros, burgueses, mais tarde o padre e o pastor
Juízes, rabinos e militares de alto escalão
Descansam a honra e a tradição
Sob os lençóis deste meu colchão

Eu sou para depois do jantar
Eu sou quem lhes dá o paladar
Quem ensina o sabor.

Adentram minha casa em bronze bustos e brasões
Repousam em meu colo meninos que tem tanto a temer
Temem o escuro e a solidão
Seus sins e nunca o não

Me batem e gritam pedem socorro sem saber
Revido com afeto momentos de entrega e prazer
Carícias que eles pensam arrancar
Dou por querer, esse é o meu papel.

Eu sei o que eles precisam ter
E dou, mas cobro pra que eles pensem
Que têm o poder.

No dia seguinte a ordem volta ao seu lugar
Nos lares perfeitos erguem cruzadas em prol do bem
O rio segue o curso normal
Eles o leito, eu a marginal.

Coração (Clarisse Grova)

Coração
Vê se bate no compasso da estação
Entre nós
Não há nenhum segredo
Nós sabemos que é verão
Coração

Diz sim ou não
Sem traição, coração
É melhor pra nós dois
Você vai ver depois

Quem te atura apressado sou eu
Quem te leva pra cama sozinha sou eu
Coração...
Coração...
Coração...

Moleque-Marraio (Felipe Radicetti e Marcelo Biar)

Pula carniça cai todo mundo encarna
cartinha pro namorado
cuidado que a tinta vai se acabar
dez vão sorrir um vai chorar
tudo o que o mestre mandar farei
mas eu deixei passar minha vez
quem sabe dizer
por que não pulei?

O futebol jogado pela janela
gritei um gol anulado
Um vai ter que perder pro outro ganhar                                                            
Time de fora é quem sobrou
Craque de bola tem o seu lugar
Quem é pereba vai para o gol
quem sabe dizer
por que não joguei?

Polícia e ladrão por favor me salvem
o pique já começou
corre logo menino, tá com você
eu tô de altos, sem querer...
Jogo da vida marraio sou
ninguém me ouve, eu não sei brincar
quem sabe dizer
por que eu fiquei?

Quem sabe dizer
o que nos detém?
Quem sabe dizer?

Quem sabe dizer?

Guerra e Paz (Felipe Radicetti e Cristina Saraiva)

Guerra e paz
Nem sei mais
Como levo dentro
Tanta dor
Sombra e cor
os matizes do amor

Eu misturo
Receios
Vontades
Segredos

E os sonhos que deixei pra trás
confesso que não deixo mais
procuro
uma outra história, outra paisagem
miragem ou revelação
promessas
me faço
afasto
o cansaço

Vou feliz
aprendiz
sem destino certo
onde estou?
Como vou?
Já não quero pensar

Mas me juro
coragem
desejos
anseios

E os sonhos que deixei pra trás
serão agora como um cais
me perco
em cada história, cada devaneio
passeio num tornado,
vou sozinha
tomada
por minha
alvorada, vou

Um Outro Fado (Clarisse Grova e Paulo César Feital)

Cá estou
Dentro enfim a me refugiar
Só assim
Sou de mim sentinela

Me perdoa vida
Eu e meu temor
Lá fora eu morro
Ou mata-me esse amor.

Se supões
Que é um equívoco morrer de amor
Morro em mim
Como morre a quimera

Como a primavera
é a ilusão da flor
é a mera eternidade desse amor.

Mas basta um beijo teu
Nos lábios da razão
Presídio da paixão
pra dar fuga ao desejo
que navega ao cio
Tejo e vai

Ancorar,
libertar de novo a tripulação
De assombrações
Que a ilusão me perfila

Depois te retiras
Buscas outro amor
E eu choro em outro fado
Meu pavor.

Mas basta um gesto teu
Pra teres meu perdão
As marcas de outras mãos
Que digitam meus beijos
Já não regam o rio
Tejo e vão

Ancorar,
libertar de novo a tripulação
De assombrações
Que a ilusão me perfila

E o pouco que resta
basta pra o que sou
E eu choro em outro fado
Meu pavor.

Cá estou
Dentro enfim a me refugiar
E eu choro em outro fado
Meu amor.

Se supões
Que é um equívoco morrer de amor
E eu choro em outro fado
Meu amor.

É Tarde... (Felipe Radicetti e Carla Aka)

Os carros voam.
Em alerta o guarda dorme,
Os hospitais pedem silencio.
Silencio.

E a alma à toa,
Dopada, animal,
A minha alma não sossega,
Sossega.

Congela a imagem
No frio, na Ásia, no inverno.
Alguém ligando a cobrar
Atenção.

É tarde meu amor é tarde
De verão em flashback
Sem anestesia, poesia impura
Na parede, na calçada
Não salva, não salva.

Eu sinto muito
Eu sinto, já é tarde
O sol desliza riso falso
Dos teus lábios
Adormeceu.

Import(ânsia) (Clarisse Grova)

Não me importa mais seu beijo
Não me importa o seu sabor                                                                     
Não me importa mais seu jeito
Não me importa o seu calor

Não me importa mais seu cheiro
Nem o tempo que passou
Não me importa o desespero
Não me importa o dissabor

Não me importa o coração
O conselho dos amigos
Sua mão na minha mão
O encontro mais bonito

Não me importa a solidão
Não me importa o seu sorriso
Não me importa sua voz dizendo:
Isso é loucura, o que vai ser de nós?

Por Deus não me procura
Me esquece, por favor
Esquece a nossa jura
Esquece, meu amor.

Ficha Técnica

Rude Pedra
Voz: Clarisse Grova
Guitarra e violão: Victor Biglione
Teclados, arranjos e programações eletrônicas: Felipe Radicetti 

O Tal Trem
Voz: Clarisse Grova
Violão: Chico Adnet
Pandeiro: Ovídio
Teclados, arranjos e programações eletrônicas: Felipe Radicetti

Marrento
Voz: Clarisse Grova
Percussão: Flavia Belchior
Teclados, arranjos e programações eletrônicas: Felipe Radicetti

Indiviso
Voz: Clarisse Grova
Teclados, arranjos e programações eletrônicas: Felipe Radicetti

Livro em Branco

Voz: Clarisse Grova
Violão: João Cantiber
Teclados, arranjos e programações eletrônicas: Felipe Radicetti

Senhora
Voz: Clarisse Grova
Violino: Oswaldo Carvalho
Teclados, arranjos e programações eletrônicas: Felipe Radicetti

Coração
Voz: Clarisse Grova
Violão: Chico Adnet
Teclados, arranjos e programações eletrônicas: Felipe Radicetti

Moleque-Marraio
Voz: Clarisse Grova
Coro: Clarisse, Fabíola e Mirna
Teclados, arranjos e programações eletrônicas: Felipe Radicetti

Guerra e Paz
Voz: Clarisse Grova
Sax Alto: Ricardo Pontes
Teclados, arranjos e programações eletrônicas: Felipe Radicetti

Um Outro Fado
Voz: Clarisse Grova
Teclados, arranjos e programações eletrônicas: Felipe Radicetti

É tarde
Voz: Clarisse Grova
Guitarra: Victor Biglione
Teclados, arranjos e programações eletrônicas: Felipe Radicetti

Import(ânsia)
Voz: Clarisse Grova
Teclados, arranjos e programações eletrônicas: Felipe Radicetti

Citações

Aflorar tecnologias/ sentimentos de ponta... seta que aponta para o futuro imediato, entre o resgate e o vislumbre, tudo pulsando, respirando som. Lírico, delírico, sol sem nuvens. assim eu vejo/ouço, sinto e absorvo este novo e instigante trabalho musical. Na minha opinião, um trabalho que vai dar muito que falar, mas, antes de tudo, o que ouvir”. Sérgio Natureza

O GLOBO - SEGUNDO CADERNO - DISCOLÂNDIA - Por HUGO SUKMAN - Cotação: * * * *
"Trata-se do mais bem-sucedido casamento da MPB com a música eletrônica. Os caminhos que este disco original propõe tem um ponto de chegada: a renovação da música brasileira.E um problema, abundante a enfrentar: preguiça e conservadorismo. MPB e música eletrônica sem incompatibilidades. Dupla propõe modo original de fazer canção brasileira". 15 de julho de 2003.

O GLOBO ON LINE - CDS RECOMENDADOS - Por LEONARDO LICHOTE 
"A dupla acerta com louvor. Superlisa mostra que até mesmo aquele gênero meio amorfo que repousa sob a cansada sigla MPB ainda tem muito espaço para talento e, sobretudo, invenção." 19 de agosto de 2003.

O ESTADO DE SÃO PAULO – Passeio Eletrônico - Por MAURO DIAS 
"Músicos ligados à tradição de canção da MPB, o tecladista e compositor Felipe Radicetti e a cantora e compositora Clarisse Grova arriscam, e obtém resultado ótimo, passeio pelo terreno da música eletrônica. O vozeirão maravilhoso de Clarisse, belas melodias e arranjos, letras ótimas. Excelente". 26 de junho de 2003.