Cada Tempo em seu Lugar – Cacala Carvalho e João Braga

Release Date: 2012-02-04
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Celebração à obra de Gilberto Gil

Cada tempo em seu lugar, lançado em 2012, é uma homenagem aos 70 anos de Gilberto Gil completados naquele ano. Foi gravado por Cacala Carvalho em duo com o pianista João Braga.

Cacala tem em Gilberto Gil sua maior referência musical e o considera um grande ídolo. O álbum foi idealizado e realizado por ela e por João Braga com muito esmero, cuidado em todos os detalhes, numa abordagem reverente e ao mesmo tempo criativa para alguns dos grandes sucessos do compositor.

LETRAS

Ladeira da Preguiça (Gilberto Gil)

Essa ladeira, que ladeira é essa?
Essa é a ladeira da preguiça
Essa ladeira, que ladeira é essa?
Essa é a ladeira da preguiça

Preguiça que eu tive sempre De escrever para a família
E de mandar conta pra casa
Que esse mundo é uma maravilha
E pra saber se a menina
Já conta as estrelas e sabe a segunda cartilha
E pra saber se o menino
Já canta cantigas e já não bota mais a mão na braguilha
E pra falar do mundo falo uma besteira

Formentera é uma ilha
Onde se chega de barco, mãe
Que nem lá, na ilha do medo
Que nem lá, na ilha do frade
Que nem lá, na ilha de maré
Que nem lá, salina das margaridas

Essa ladeira, que ladeira é essa?
Essa é a ladeira da preguiça
Ela é de hoje
Ela é desde quando
Se amarrava cachorro com linguiça

Metáfora (Gilberto Gil)

Uma lata existe para conter algo
Mas quando o poeta diz: Lata
Pode estar querendo dizer o incontável
Uma meta existe para ser um alvo
Mas quando o poeta diz: Meta
Pode estar querendo dizer o inatingível
Por isso, não se meta a exigir do poeta
Que determine o conteúdo em sua lata
Na lata do poeta tudo nada cabe
Pois ao poeta cabe fazer
Com que na lata venha caber
O incabível

Deixe a meta do poeta, não discuta
Deixe a sua meta fora da disputa
Meta dentro e fora, lata absoluta
Deixe-a simplesmente metáfora
Uma lata existe para conter algo
Mas quando o poeta diz: Lata
Pode estar querendo dizer o incontável
Uma meta existe para ser um alvo
Mas quando o poeta diz: Meta

Pode estar querendo dizer o inatingível
Por isso, não se meta a exigir do poeta
Que determine o conteúdo em sua lata
Na lata do poeta tudo nada cabe
Pois ao poeta cabe fazer
Com que na lata venha caber
O incabível

Deixe a meta do poeta, não discuta
Deixe a sua meta fora da disputa
Meta dentro e fora, lata absoluta
Deixe-a simplesmente metáfora

Expresso 2222 (Gilberto Gil)

Começou a circular o expresso 2222
Que parte direto de bonsucesso pra depois
Começou a circular o expresso 2222
Da central do Brasil
Que parte direto de bonsucesso
Pra depois do ano 2000

Dizem que tem muita gente de agora
Se adiantando, partindo pra lá
Pra 2001 e 2 e tempo afora
Até onde essa estrada do tempo vai dar
Do tempo vai dar

Do tempo vai dar, menina, do tempo vai
Segundo quem já andou no expresso
Lá pelo ano 2000 fica a tal
Estação final do percurso-vida
Na terra-mãe concebida
De vento, de fogo, de água e sal
De água e sal, de água e sal
Ô, menina, de água e sal

Dizem que parece o bonde do morro
Do corcovado daqui
Só que não se pega e entra e senta e anda
O trilho é feito um brilho que não tem fim
Oi, que não tem fim
Que não tem fim

Ô, menina, que não tem fim
Nunca se chega no Cristo concreto
De matéria ou qualquer coisa real
Depois de 2001 e 2 e tempo afora
O Cristo é como quem foi visto subindo ao céu
Subindo ao céu
Num véu de nuvem brilhante subindo ao céu

Deixar Você (Gilberto Gil)

Deixar você
Ir
Não vai ser bom
Não vai ser
Bom pra você
Nem melhor pra mim

Pensar que é

Deixar de ver
E acabou
Vai acabar muito pior

Pra que mentir
E fingir que o horizonte
Termina ali defronte
E a ponte acaba aqui?
Vamos seguir
Reinventar o espaço
Juntos manter o passo
Não ter cansaço
Não crer no fim

O fim do amor
Oh, não
Alguma dor
Talvez sim
Que a luz nasce na escuridão

Funk-se Quem Puder (Gilberto Gil)

Funk-se quem puder
É imperativo dançar
Sentir o ímpeto
Jogar as nádegas
Na degustação do ritmo
Funk-se quem puder

É imperativo tocar
Fogo nas vértebras
Fogo nos músculos
Música em todos os átomos
A nossa atlântica e atlética

Romântica e poética
República da música
Conclama os físicos, místicos
Bárbaros, pacíficos
Índios e caras-pálidas
Nossos exércitos, políticos

Poder eclesiástico
E o comitê do carnaval
É hora de salvar a pélvis
Soltá-la, libertá-la
Agitá-la como o Elvis

Grande guerreiro e mártir
Da nação do rock’n’roll
Funk-se quem puder
Se é hora da barca virar
Não entre em pânico

Jogue-se rápido
Nade de volta à mãe África
Funk-se quem puder
Se é tudo que resta a fazer
Não perca o ânimo
Chegue mais próximo

Sambe e roque-role o máximo
Na degustação do ritmo
Música em todos os átomos
Nade de volta à mãe África
Sambe e roque-role o máximo

O Rouxinol (Gilberto Gil/Jorge Mautner)

Joguei no céu o meu anzol
Pra pescar o Sol
Mas tudo que eu pesquei
Foi um rouxinol
Foi um rouxinol

Levei-o para casa
Tratei da sua asa
Ele ficou bom
Fez até um som
Ling, ling, leng
Ling, ling, leng, ling

Cantando um rock com um toque diferente
Dizendo que era um rock do oriente pra mim
Cantando um rock com um toque diferente
Dizendo que era um rock do oriente pra mim

Depois foi embora
Na boca da aurora
Pássaro de seda
Com cheiro de jasmim
Cheiro de jasmim

Cada Tempo em Seu Lugar (Gilberto Gil)

Preciso refrear um pouco o meu desejo de ajudar
Não vou mudar um mundo louco dando socos para o ar
Não posso me esquecer que a pressa
É a inimiga da perfeição
Se eu ando o tempo todo a jato, ao menos
Aprendi a ser o último a sair do avião

Preciso me livrar do ofício de ter que ser sempre bom
Bondade pode ser um vício, levar a lugar nenhum
Não posso me esquecer que o açoite
Também foi usado por Jesus
Se eu ando o tempo todo aflito, ao menos
Aprendi a dar meu grito e a carregar a minha cruz

Ô-ô, ô-ô
Cada coisa em seu lugar
Ô-ô, ô-ô
A bondade, quando for bom ser bom
A justiça, quando for melhor
O perdão
Se for preciso perdoar

Agora deve estar chegando a hora de ir descansar
Um velho sábio na Bahia recomendou: “Devagar”
Não posso me esquecer que um dia
Houve em que eu nem estava aqui
Se eu ando por aí correndo, ao menos
Eu vou aprendendo o jeito de não ter mais aonde ir

Ô-ô, ô-ô
Cada tempo em seu lugar
Ô-ô, ô-ô
A velocidade, quando for bom
A saudade, quando for melhor
Solidão
Quando a desilusão chegar

Babá Alapalá (Gilberto Gil)

Aganju, Xangô
Alapalá, Alapalá, Alapalá
Xangô, Aganju
Aganju, Xangô
Alapalá, Alapalá, Alapalá
Xangô, Aganju
Aganju, Xangô
Alapalá, Alapalá, Alapalá
Xangô, Aganju, ie
Aganju, Xangô
Alapalá, Alapalá, Alapalá
Xangô, Aganju

O filho perguntou pro pai
Onde é que tá o meu avô
O meu avô, onde é que ‘tá?
O pai perguntou pro avô
Onde é que tá meu bisavô
Meu bisavô, onde é que tá?
Avô perguntou ô bisavô
Onde é que ‘tá tataravô
Tataravô, onde é que ‘tá?
Tataravô, bisavô, avô

Pai Xangô, Aganju
Viva Egum, babá Alapalá
Aganju, Xangô
Alapalá, Alapalá, Alapalá
Xangô, Aganju
Eu quero ouvir, Rio
Aganju, Xangô
Alapalá, Alapalá, Alapalá
Xangô, Aganju
Mais alto, todo mundo
Aganju, Xangô
Alapalá, Alapalá, Alapalá
Xangô, Aganju, ie ie
Aganju, Xangô
Alapalá, Alapalá, Alapalá
Xangô, Aganju

Alapalá, Egum, espírito elevado ao céu
Machado alado, asas do anjo Aganju
Alapalá, Egum, espírito elevado ao céu
Machado astral, ancestral do metal
Do ferro natural
Do corpo preservado
Embalsamado em bálsamo sagrado
Corpo eterno e nobre de um rei nagô

Aganju, Xangô
Alapalá, Alapalá, Alapalá
Xangô, Aganju
Aganju, Xangô
Alapalá, Alapalá, Alapalá
Xangô, Aganju, mais uma vez
Aganju, Xangô
Alapalá, Alapalá, Alapalá
Xangô, Aganju, ie
Aganju, Xangô
Alapalá, Alapalá, Alapalá
Xangô, Aganju

O filho perguntou pro pai
Onde é que tá o meu avô
O meu avô, onde é que ‘tá?
O pai perguntou pro avô
Onde é que tá meu bisavô
Meu bisavô, onde é que tá?
Avô perguntou ô bisavô
Onde é que ‘tá tataravô
Tataravô, onde é que ‘tá?
Tataravô, bisavô, avô

Pai Xangô, Aganju
Viva Egum, babá Alapalá
Aganju, Xangô
Alapalá, Alapalá, Alapalá
Xangô, Aganju
Aganju, Xangô
Alapalá, Alapalá, Alapalá
Xangô, Aganju
Aganju, Xangô
Alapalá, Alapalá, Alapalá
Xangô, Aganju
Aganju, Xangô
Alapalá, Alapalá, Alapalá
Xangô, Aganju

Alapalá, Egum, espírito elevado ao céu
Machado alado, asas do anjo Aganju
Alapalá, Egum, Egum, espírito elevado ao céu
Machado astral, ancestral do metal
Do ferro natural

Do corpo preservado
Embalsamado em bálsamo sagrado
Corpo eterno e nobre de um rei nagô
Aganju, Xangô
Alapalá, Alapalá, Alapalá
Xangô, Aganju
Aganju, Xangô
Alapalá, Alapalá, Alapalá
Xangô, Aganju, mais uma vez
Aganju, Xangô

Olho Mágico (Gilberto Gil)

Piolho, piolho!
Você quer ver um piolho
No pelo da minha púbis
No pelo da minha púbis
Que olho, que olho!

Você pensa que tem olho
Você pensa que tem olho
Que tem olho de olho mágico
Você quer me ver vivendo
Algo patético ou trágico

Você pensa que eu estou no big brother
Você pensa que eu seria um grande irmão
Você pensa que eu estou fora de moda
Porque ainda considero a solidão

Que molho, que molho!
Quer ver o dente de alho
Quer ver o dente de alho
Refogando meu repolho
Quer alho, quer alho!

Quer pimenta malagueta
Quer que eu chupe uma chupeta
Que que eu imite um zarolho
Quer meu álbum de retratos
Remexer minha gaveta
Arrumar o meu armário

Refazer meu guarda-roupa
Andar na minha lambreta
Você quer a rima fácil
Como eu fosse um poeta
De proveta ou de prancheta
Que saco, que saco!

Como se isso fosse naco
Como se isso fosse nesga
Como se isso fosse fresta
Que saco, que saco!
Como se isso fosse um jeito
De você bisbilhotar meu silêncio
Ou minha festa

Eu estou lhe dando tudo
Eu estou me dando todo
O meu celular me cola
Inteirinho em seu roteiro
Não precisa me editar
Filmei tudo o tempo inteiro
Quero ver quem ver primeiro
Até onde eu vou chegar
Primeiro, primeiro!

Quero ver quem ver primeiro
Até onde eu vou chegar
Até onde eu vou chegar
Meu retrato celular
Retrato celular

Essa é pra Tocar no Rádio (Gilberto Gil)

Essa é pra tocar no rádio
Essa é pra tocar no rádio

Essa é pra vencer o tédio
Quando pintar
Essa é um santo remédio
Pro mau humor
Essa é pro chofer de táxi
Não cochilar
Essa é pro querido ouvinte
Do interior

Essa é pra tocar no rádio
Essa é pra tocar no rádio

Essa é pra sair de casa
Pra trabalhar
Essa é pro rapaz da loja
Transar melhor
Essa é pra depois do almoço
Moço do bar
Essa é pra moça dengosa
Fazer amor

Essa é pra tocar no rádio
Essa é pra tocar no rádio

Sítio do Picapau Amarelo (Gilberto Gil)

Marmelada de banana
Bananada de goiaba
Goiabada de marmelo
Sítio do Pica-pau Amarelo
Goiabada de marmelo
Sítio do Pica-pau Amarelo

Boneca de pano é gente
Sabugo de milho é gente
O Sol nascente é tão belo
Sítio do Pica-pau Amarelo
Boneca de pano é gente
Sabugo de milho é gente
O Sol nascente é tão belo
Sítio do Pica-pau Amarelo

Rios de prata piratas
Voo sideral na mata
Universo paralelo
Sítio do Pica-pau Amarelo
Rios de prata piratas
Voo sideral na mata
Universo paralelo
Sítio do Pica-pau Amarelo

No país da fantasia
Num estado de euforia
Cidade Polichinelo
Sítio do Pica-pau Amarelo
No país da fantasia
Num estado de euforia
Cidade Polichinelo
Sítio do Pica-pau Amarelo

Brasil do Gil (Heraldo Amaral)

Luziu
Cadente caiu uma estrela do céu
Do céu do Brasil
Brasil
Quando eu nasci você me sorriu

E ainda hoje ri
Assim como quem ri
De si, de dó de mim
Nunca vai ter fim

O meu drama nas tramas da ilusão
Nas cordas do passado
Só um samba convence o coração
A por a dor de um amor de lado

Gosto de samba como eu gosto do Brasil
Daquele Brasil do Gil
O Brasil dos mil brasis
O samba é nossa música mais popular

Ele nasce do povo
E o povo sai a cantar
E homenagear o carnaval
A geral, a geleia geral
O profeta da central do Brasil

Luziu
Cadente caiu uma estrela do céu
Do céu do Brasil
Brasil
Quando eu nasci você me sorriu
E ainda hoje ri
Assim como quem ri

De si, de dó de mim
Nunca vai ter fim
O meu drama nas tramas da ilusão
Nas cordas do passado
Só um samba convence o coração
A por a dor de um amor de lado

Gosto de samba como eu gosto do Brasil
Daquele Brasil do Gil
O Brasil dos mil brasis
O samba é nossa música mais popular

Ele nasce do povo
E o povo sai a cantar
E homenagear o carnaval
A geral, a geleia geral
O profeta da central

Gosto de samba como eu gosto do Brasil
Daquele Brasil do Gil
O Brasil dos mil brasis
O samba é nossa música mais popular

Ele nasce do povo, e o povo
O povo sai a cantar
E homenagear o carnaval
A geral, a geleia geral
O profeta da central

A geral, a geleia geral
O profeta da central

A geral, a geleia geral
O profeta da central

A geral, a geleia geral
O profeta da central do Brasil

Ficha Técnica

Todas as músicas executadas pelo Duo: Cacala Carvalho (voz) e João Braga (Piano Kurzweill)
Produção musical e arranjos: Cacala carvalho e João Braga
Direção de gravação de voz: Alain Pierre
Gravado e mixado por Alain Pierre no Estúdio Navegante, entre maio de 2011 e março de 2012
Masterizado por Carlos Mills
Fotos: Luiza Gueiros
Capa: Rafael Antunes Hernandez

Participações especiais:
Alain Pierre – violão em Expresso 2222
Arthur Maia – baixo em Babá Alapalá
Fernando Caneca – guitarra em Olho Mágico